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MULHERES EM PANDEMIA: AS DIFERENTES FACETAS DE UM MESMO FATO HISTÓRICO

Data de publicação  30/07/2020, 04:04
Postagem Atualizada há 4 anos
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Autoras: Sarah Ramos Medeiros; Ethanielda de Lima Coelho e Lívia Paulia Dias Ribeiro

RESUMO

Esta produção consiste em um ensaio a partir de narrativas relacionadas com os desafios que a pandemia da COVID-19 tem causado à humanidade sob a ótica das três autoras desta produção acadêmica e como elas têm conciliado com as questões das suas vidas. Os recortes de raça, classe, afetividade, gênero, as visões de mundo e preocupações concernentes ao que já é chamado o maior acontecimento do início do século XXI estão presentes nos relatos pessoais. Esta narrativa histórica é rica justamente por admitir em cada uma de seus relatos uma visão diferente de um mesmo acontecimento sem pretender atingir “a verdade”, mas sim permitindo ao leitor observar diversas facetas de um mesmo fato, tornando-as importantes em sua complexidade, sem julgá-las hierarquicamente mais ou menos “corretas” ou válidas.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo desta produção é dar voz às vivências e reflexões que estão ocorrendo na vida das três autoras nesse período em tempos da pandemia da COVID-19.

A proposta nasce na tentativa de modificar a tendência de uma perigosa homogeneidade das manifestações sobre a pandemia, que estão noticiadas com aspectos numéricos, estatísticos e com sensacionalismo trágico, porém muito pouco tem sido visto os desafios e as reflexões das pessoas que estão enfrentando este momento, como também pouco são os espaços para diálogos com objetivo de desenvolver entendimentos sobre o que nos levou a esse estado e como poderíamos sair dele, se é que sairemos – mesmo que a pandemia seja superada. As autoras possuem histórias de vida diferentes e se dispuseram a se abrir genuinamente, o que as levaram a oferecer visões dos acontecimentos de um mesmo período de forma individualizada.

Os três relatos foram apresentados de maneira sequencial, que permite uma leitura independente ou serem entendidos em conjunto (mundo interno, mundo externo e perspectivas para o ser humano e a humanidade):

O Relato 1: Traz reflexões pessoais sobre os acontecimentos que nos trouxeram a este contexto, tanto como indivíduos quanto aspectos da humanidade. Ela elencou pensamentos sobre o que devemos compreender para sermos indivíduos melhores e sairmos fortalecido como espécie, como também apresenta uma teoria dialética sobre a possibilidade do planeta Terra está tentando fazer um controle populacional da humanidade.

O Relato 2: Nos leva a uma descrição acurada de como a sociedade em tempo de pandemia se comporta, as dificuldades das pessoas próximas a ela de conseguir acesso a atendimento digno no SUS, e como a autora tenta equilibrar as exigências sociais, as formas de proteger sua família e lidar com o luto, além de refletir sobre as doenças negligenciadas como dengue, zika e chikungunya que não deixam de atingir a população menos favorecida, independentemente da pandemia.

O Relato 3: É centrado na história de vida da autora e sua luta contra a depressão e ansiedade. Nos momentos de confissões sobre seus sentimentos, ela aponta o aumento dos casos de doenças psiquiátricas no período da pandemia e reflete quais seriam os caminhos possíveis para conseguirmos conviver melhor com a ansiedade e a depressão que tomaram conta de nosso cotidiano de forma irreversível.

2 RELATOS

2.1 RELATO 1

Quando a pandemia chegou no Ceará, meados do mês de março, já tínhamos conhecimento do poder de contaminação do novo coronavírus e o dano à saúde que ele pode causar ao corpo infectado. As aulas presenciais nas instituições de ensino públicas e privadas foram suspensas logo nos primeiros casos de óbitos registrados. Inicialmente foi posto em prática o distanciamento social por um período de 15 dias, depois prorrogaram por mais 15 dias e por fim sem definição para o retorno das aulas. Logo pensei: “excelente oportunidade para colocar todas as minhas tarefas acumuladas ao longo desses meses em dia, além de poder escrever os artigos que estão parados por tanto tempo”. Nos primeiros dias de isolamento social iniciei meu planejamento, separei uns materiais, preparei um lugar na minha casa (localizada na cidade de Pacatuba/Ce) para trabalhar de forma mais tranquila e concentrada; fiz compras de supermercado que fossem suficientes para um mês, e até então estava tudo indo muito bem. 

Em um curto período de tempo os números de infectados e óbitos começaram a aumentar exponencialmente na capital. Recebemos notícias que no bairro que minha mãe mora surgiu um surto de contaminação e para sua segurança, pois ela pertence ao grupo de risco, decidimos que seria melhor que ela e minha sobrinha viessem ficar na minha casa, por conta do baixo números de infectados na cidade e assim seria mais seguro. E foi a partir daí que meus planos começaram a não ter os resultados esperados. 

Passado o primeiro mês, fui convidada a assumir um cargo de gestão e como resultado do meu aceite, o resto do meu planejamento foi por água abaixo. Às demandas do trabalho se transformaram rapidamente em uma agenda recheada de reuniões por meio remoto, tiveram dias de iniciar nas primeiras horas da manhã e finalizar só à noite. Tive que me adaptar a uma nova rotina de trabalho totalmente diferente do que eu estava acostumada, com reuniões por videoconferência, demandas excepcionais em decorrência da situação, e tudo foi se redesenhando, o cansaço físico foi dando lugar ao cansaço mental.   

Neste momento que escrevo este relato, estamos com quase 4 meses de isolamento social e trago comigo algumas  reflexões e marcas físicas e psicológicas. Nos primeiros dois meses eu tive uma enxurrada de pensamentos sobre o momento que estamos vivendo, e irei apresentar a seguir os mais importantes para mim. 

Inicialmente, pude notar que a humanidade parou de falar de números que estavam relacionados ao futuro econômico, bolsa de valores e variação do dólar, o mundo se voltou para falar de números que estavam agora relacionados às vidas, vidas que estavam em risco de morte, vidas que não existem mais e vidas que sobreviveram à doença. Pouco se falava do custo financeiro para salvar essas vidas, o dinheiro tinha perdido seu valor neste momento. O valor da vida, o valor do ar, recurso natural gratuito, além de algumas matérias sobre espécies de animais que saíram para se aventurar no meio das cidades esvaziadas por conta do isolamento social foram ganhando destaques nas notícias.

Assim, mídias sociais, jornais, revistas, redes de transmissão de vídeos, absolutamente todos os meios de comunicação falavam agora sobre vida. Inacreditável, como teve que vir algo que não tem vida, como um vírus, para ensinar a nós seres humanos o despertar e recolocar a vida no centro das nossas atenções, e levar o valor do dinheiro para o segundo plano. 

Desde ano passado, nós brasileiros estávamos presenciando comentários de descrédito da ciência brasileira e das universidades públicas por parte do governo federal e de seus apoiadores. Com esta pandemia, o povo brasileiro voltou-se o olhar para a ciência brasileira, em especial a produzida nas universidades públicas, em busca das respostas ao combate da COVID-19. Desde o início da pandemia as universidades públicas estão buscando atenuar os efeitos desta doença, inúmeros estudos estão em andamento e a população espera por alguma resposta por ter renovado sua acreditação na importância da coisa pública em benefício de todos.

Sabemos que as pesquisas desenvolvidas nas universidades devem ser de conhecimento público e para benefício de todos. Porém, a pandemia da COVID-19 trouxe evidências sobre a dura realidade da saúde brasileira.  A contaminação por vírus não tem preferência pela cor da pele ou classe social, no entanto às estatísticas de sobrevivência e cura da doença tem trazido resultados diretamente relacionados com outras questões em relação ao contexto socioeconômico da população menos favorecida. O que não deveria ter distinção de classe social, aqui no Brasil é evidenciado o baixo investimento no aparato da saúde para atendimento público e gratuito da população, gerando assim impactos diferentes nas classes sociais diferentes.

Envolvida por esses pensamentos ferventes em mim, criei algumas conclusões sobre o contexto que me mantém consciente e alerta: 

  • Somos frágeis, somos todos frágeis, ricos e pobres, asiáticos e americanos, homens ou mulheres. Um material genético que não tem vida independente, que nem possui uma única célula é capaz de matar milhares de seres humanos, que possuem uma estrutura genética tão elaborada.
  • Apesar das diferentes raças, nós somos indivíduos da mesma espécie e somos biologicamente suscetíveis à contaminação de doenças virais, não cabe discriminação de raça, estamos todos juntos nessa.
  • Precisamos acolher o presente, o aqui e o agora, o “só por hoje “.
  • Somos seres sociáveis e que precisamos dos outros para nós reconhecer como pessoa humana e que precisamos cuidar uns dos outros para garantir nossa sobrevivência. 
  • Consigo imaginar que o vírus seja uma estratégia encontrada pelo planeta terra, como mecanismo de defesa, para controle populacional da única espécie animal que causa dano ao meio ambiente.

2.2 RELATO 2

Antes da pandemia, parecia que o tempo queria me engolir. Eu sempre tentava ser uma boa mãe, esposa, filha, irmã, amiga, profissional… mas a falta de tempo me dava a impressão de fracassar em quase tudo. A luta era constante, e por mais que eu me esforçasse, o meu melhor nunca era suficiente. O tempo sempre me vencia. E nas horas mais difíceis eu pedia a Deus pro tempo parar porque às vezes eu só queria respirar um pouco mais devagar. E assim, desse modo acelerado, o tempo passava e ninguém poderia imaginar que um dia a vida seria mais importante que o tempo, apesar do “tempo ser dinheiro”. E que, por poucos meses, teríamos tempo pra tudo, como em um sonho, que se não fosse um pesadelo, poderia nunca acabar. 

O inimaginável aconteceu em todo o mundo, e muitas coisas foram ditas a respeito da pandemia da COVID-19. Acreditavam que poderia ser o final dos tempos e até que tudo não passava de uma mentira, inventada com fins capitalistas. Em meio a tudo isso, muitas coisas mudaram na minha rotina. Passei a ter mais tempo pro meu filho pequeno, a cuidar melhor da minha casa, a ligar mais para os meus familiares e até ficar sem fazer nada. O que mais incomodava e me deixava triste era assistir aos jornais e pensar que muitas pessoas iriam morrer sem nenhum socorro e que o luto seria grande demais. Por isso, logo no início da pandemia, para preservar o meu psicológico e meu bom humor, decidi evitar assistir os noticiários. E ao longo desses meses três acontecimentos me marcaram mais fortemente, sendo eles o adoecimento da minha mãe pela COVID-19, o falecimento do irmão do meu padrasto e a visão das pessoas do bairro onde eu moro. 

Em meados do mês de março minha mãe adoeceu de uma gripe aparentemente fraca. Isso ocorreu logo que iniciou o isolamento social no meu estado. Com o passar dos dias os sintomas da gripe foram piorando, com tosse intensa, muita fadiga e dores no corpo, além da febre. Como estávamos no auge do medo da pandemia, sempre ajudava minha mãe a distância. Fizemos tudo para que ela melhorasse em casa, mas não teve outro modo senão levá-la a Unidade de Pronto Atendimento mais próxima (UPA). Nesta noite eu me senti em pânico, com medo de que ela já estando fraca, pudesse piorar caso fosse acometida pela COVID-19. E pela primeira vez na minha vida eu tive medo de perder a minha mãe. Chorei muito naquela noite e conversei com Deus. Pedi a ele que não a tirasse de mim, porque eu não estava preparada para perdê-la. Somente naqueles dias me dei conta que nunca havia dado a ela o amor, carinho e atenção que ela merecia. Na UPA os profissionais da saúde não se aproximaram dela, apenas tiraram raio-x, confirmaram a pneumonia e receitaram o tratamento para a COVID-19. Foram cinco dias de tratamento e o mais triste de tudo foi não poder estar perto dela. A melhora veio aos poucos junto com meu alívio e um exame de sangue confirmou a presença de anticorpos contra o novo coronavirus causador da COVID-19. De tudo isso aprendi que muitas coisas se guardam para depois, menos “o amar”. 

No início do mês de maio acompanhei diariamente a luta contra a COVID-19 do irmão do meu padrasto. Apesar de não ser próxima dele, fiquei chocada e comovida com o sofrimento da família e a situação precária que ele viveu durante uma semana de internamento na UPA da nossa cidade. Relataram-me que ele esteve por quase uma semana em estado grave, recebeu oxigênio e posteriormente teve que ficar em estado de coma induzido, tudo isso sentado em uma cadeira. A lotação do local era tão grande que não havia maca disponível na unidade médica. Soube do relato, mas de imediato não acreditei que fosse possível. Então, em uma das poucas vezes que assisti ao jornal local, ouvi um relato de uma filha que estava com a mãe na mesma situação, nesse caso a mãe dela pedia que a deitassem no chão porque ela não aguentava mais estar sentada. Hoje ainda foi possível encontrar um recorte jornalístico desta situação grave na minha cidade (DIARIO DO NORDESTE, 2020), me fazendo comprovar que tudo foi verdade e que o ocorrido deve ter acontecido com muitos. Sempre soube que havia precariedade nas nossas unidades de saúde, mas por causa da repercussão mundial da pandemia, podemos saber, ainda que de modo incompleto, um pouco daquilo que os menos favorecidos sofrem. Ressalto ainda que aqui não soube ou encontrei em busca pela internet nenhum desses relatos nas unidades de saúde particulares do meu estado. Se a pandemia era para todos, ricos e pobres, porque os recortes de descaso e precariedade também não foram equivalentes? Um questionamento de muitos que certamente sempre encontra respostas vazias ou não condizentes com a realidade, geralmente respostas superficiais. 

Eu resido em um bairro da região metropolitana de Fortaleza, que apesar de ter poucas vielas, é composta por uma maioria pertencente a uma condição social menos favorecida. No início do isolamento social, percebi as pessoas resistentes a ficarem em casa e utilizarem máscaras ou terem cuidados com a higienização das mãos. Constatei isso ao ir nos mercadinhos e padarias próximos a minha casa. A medida que as regras ditadas pelo governador do meu estado foram se tornando mais rígidas, percebi as pessoas um pouco mais contidas e cuidadosas. E não posso me abster de relatar que já ouvi muitos comentarem que só utilizavam a máscara quando viam o carro da polícia se aproximar. De certo, o isolamento pregado pelas emissoras de televisão nunca foi praticado pela grande maioria dos moradores do meu local. E pra mim é muito fácil justificá-los. Como isolar-se se na maioria das casas não há entretenimento para as crianças, como brinquedos e acesso a internet, não há ambiente espaçosos e ventilados, e a alimentação é escassa e precária. Como criticar os pais que tiveram que sair de casa para ganhar o alimento do dia a dia em atividades não essenciais? Passei a entender que essa pandemia assusta mais às classes sociais mais altas que não tiveram contato intenso com os mortais surtos endêmicos das periferias. Aqui tivemos a chikungunya, zika e dengue, que já mataram matou muito mais do que a COVID-19. Já ouvi comentários que as pessoas do meu local se aglomeram nas ruas porque são ignorantes. Acredito que a ignorância é não considerar o desemprego, a dificuldade de acesso aos meios de entretenimento, o sistema público de saúde precário, a violência doméstica e infantil, a depressão, o pânico e muito outros problemas que sempre atingiram as regiões periféricas do nosso estado. E que na ocasião que estamos vivendo, essas dificuldades se amplificam e tornam a vida dos mais carentes um “pandemônio”, como muito ouvi falar. Fico feliz de perceber que as fronteiras estão se abrindo e que parece que a vida está voltando ao normal. Porque hoje, o normal de ontem é um paraíso. 

2.3. RELATO 3

Em 2016 meu mundo mudou pra sempre. Tive que enfrentar o desafio do processo de perda do meu pai e isto trouxe consequências e feridas que até hoje tento lidar. Neste contexto, a pandemia no ano de 2020 me atingiu como mais um soco na cara de um lutador cansado de apanhar, mas que, teimoso, ainda não desistiu do ringue. Tenho depressão e ansiedade, e esses meses têm sido bem desafiadores, pois meu maior trunfo e minha maior inimiga sou eu mesma. Você seria teimoso ou entregaria os pontos? O que diria a si próprio? 

Segundo Gandra (2020), a Associação Brasileira de Psiquiatria em pesquisa com 400 profissionais de 23 estados brasileiros, detectou que 89,2% destes relatou agravamento do quadro de seus pacientes durante o período da pandemia, sendo considerados não apenas o agravamento dos sintomas dos pacientes em tratamento, mas a volta de sintomas em pacientes considerados de alta anteriormente e o aparecimento de novos pacientes com algum sintoma. Parece uma coisa óbvia, até mesmo repetitiva de mencionar, mas é importante estarmos cientes que a pandemia tem uma influência GRANDE no psicológico das pessoas e temos que encarar isso para ontem. Não é com figurinha/texto de motivação que isso será superado.

E como seria?

Eu não sei. Gostaria mesmo que alguém soubesse. De verdade. Quem sabe se a resposta não serviria para mim?

No entanto, não gosto de desistir, sabe? Tenho muita vergonha de mim por não ser aquilo que gostaria de ser, que acredito que teria capacidade de ser. Mas como equilibrar crises onde não se tem capacidade de levantar da cama com outras crises onde nada na cabeça se encaixa e só pensar em estar dentro de um ônibus é sufocante e no meio de tudo trabalhar, sorrir e ser produtiva? A verdade é que eu não sei. Só sei que estou aqui, tenho certeza que você pode estar passando por um problema parecido, e seu 2020 pode ser o meu 2016.

Uma iniciativa interessante está acontecendo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde a equipe coordenada pelo professor Ives Cavalcante Passos está mapeando por meio de formulário online o impacto na saúde mental da pandemia pelo novo coronavírus (LIMA E TRINDADE, 2020). Acredito que conhecer a extensão do problema e como ele se apresenta sem identificação dos envolvidos nem julgamentos posteriores pode ser um bom pontapé inicial.

Eu tinha uma rotina pesada, de três turnos de trabalho, muitos quilômetros e horas de viagem todos os dias. Ter uma configuração do trabalho para a modalidade remota foi instantaneamente um ganho de quase um turno de trabalho todos os dias. Ao mesmo tempo, foi a dualidade de conviver mais com as pessoas de casa, e ainda chorar ao celular com saudade de quem está longe. Entender que o ganho de tempo em casa não foi a solução para os meus problemas foi o doloroso início de um entendimento mais profundo, o que me levou às seguintes indagações: Você entendeu que o tempo é importante, mas O QUE você faz com ele é mais importante ainda? Você entendeu que mesmo assim não importa, a gente tem compromissos e eles tem que ser mantidos até pra sobrevivência? Como viver entendendo isso, colegas? Você entendeu que as pessoas a seu redor podem não estar aqui amanhã? O ar faltou? Aqui já estou sem ar.

Da minha vivência trago algumas reflexões que que talvez sejam úteis para enfrentar esses dias:

  1. Ninguém pode invalidar ou forçar uma relação com o Divino: seu Sagrado, exista ele ou não dentro de você é algo muito pessoal e é um dos alvos favoritos de quem tenta ”ajudar”. Não se fica ansiosa ou ansioso/depressivo ou depressiva por falta de qualquer coisa do campo da crença, ok? Pense que seu Sagrado é só seu e que Ele pode te ajudar, ou você pode não crer em nada, e está tudo ótimo também.
  2. É possível que tenha dias ruins e estar tudo bem. Os prazos são complicados, e vamos ter que lidar com eles para toda vida, mas existem várias ferramentas que podem nos ajudar. Se dê um tempo pra respirar, e tentar outras abordagens de organização do tempo.
  3. Se o trabalho doméstico está consumindo seu dia e suas forças, existem formas de lidar com ele que não as convencionais. O importante é não se culpar, pois o sentimento de culpa nos deixa desmotivados e imóveis.
  4. Terapia pode ser uma estratégia. É algo normalmente deixado de lado, mas o olhar profissional nos auxilia de uma forma que nem nós mesmos imaginaríamos.
  5. Não estamos só. Pode parecer que sim e pode ser até que você esteja se afastando. Mas pessoas que gostam da gente podem nos ajudar. E ser sincera ou sincero é um outro caminho que dói, pois quebra o orgulho, mas é um dos caminhos mais efetivos.

Sendo assim, é interessante aproveitarmos a oportunidade de reflexão para entender que precisamos urgentemente nos conectar. Na internet, claro. Mas uns com os outros principalmente. Precisamos conversar. Precisamos de um processo de desburocratização dos trabalhos, conhecer nossos amigos, nossos colegas, saber onde podemos nos auxiliar para além daquilo que é estritamente institucional para que possamos continuar produzindo no caminho de uma realidade menos adoecida, não só no contexto pandêmico, mas no período de volta e após ele.

3 CONCLUSÃO

As vivências aqui compartilhadas mostraram inequivocamente que um mesmo fato histórico possui repercussões diversas, necessariamente atingindo as pessoas de diferentes maneiras, embora não seja possível separar as que sejam mais válidas para que possamos compreender o agora ou mesmo qual deixaria de legado ao futuro. No entanto, acredita-se existir uma tendência a homogeneizar as vivências dos indivíduos pelos veículos de comunicação e redes sociais que foi acirrada nesta pandemia levando a um perigoso apagamento das histórias das pessoas, massificando uma experiência coletiva complexa sob rótulo de “grande tragédia”.

As autoras, longe de quererem reescrever a História ou negar fatos concretos, ofereceram relatos pessoais sobre a pandemia da COVID-19, na tentativa de quem sabe, subverter um pouco a massificação dando protagonismo a narrativas diversas de um mesmo acontecimento, nos enriquecendo por um lado, e por outro lutando contra estruturas que se aproveitam da situação vulnerável do indivíduo para oprimi-lo e muitas vezes assassiná-lo institucionalmente.

Acredita-se que o indivíduo bem informado, seja capaz de refletir sobre sua vida, entendê-la melhor e ser responsável pela mudança da sua realidade. Neste contexto, esta leitura pode ser uma atividade interessante e até transformadora à medida que os leitores vislumbram um entendimento maior daquilo que estamos vivenciando através da observação das diferentes realidades apresentadas com seus respectivos focos e se sintam instigados a refletirem sobre sua vivência, conhecendo as histórias de quem está do seu lado e desenvolverem seus olharem com mais empatia. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIARIO DO NORDESTE. COM sintomas de COVID-19 pacientes na UPA do Jangurussu aguardam por leitos. Diário do Nordeste, 2020. Disponível em: 

<https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/metro/com-sintomas-da-covid-19-pacientes-na-upa-do-jangurussu-aguardam-por-leitos-1.2240476>. Acesso em 22 jun 2020.

GANDRA, Alana. Psiquiatras veem agravamento de doenças mentais durante a pandemia. Agência Brasil, 2020. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-05/psiquiatras-veem-agravamento-de-doencas-mentais-durante-pandemia>. Acesso em 30 jun. 2020.
LIMA, Patrícia Barreto dos Santos; TRINDADE, Emerson. Saúde mental da população durante a pandemia preocupa pesquisadores. UFRGS Saúde, 2020. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/ciencia/saude-mental-da-populacao-durante-a-pandemia-preocupa-pesquisadores/>.

SOBRE AS AUTORAS

Ethanielda Lima Coelho

Possui graduação em Química Licenciatura pela Universidade Federal do Ceará (2011), mestrado e doutorado em Química pela Universidade Federal do Ceará (2011-2014). Tem experiência na área de Química, com ênfase em Solubilização de fármacos hidrofóbicos, atuando principalmente nos seguintes temas: soluções micelares, nanoemulsões e educação em Química.


Lívia Paulia Dias Ribeiro

Possui graduação em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual do Ceará (2002), mestrado em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2004) e doutorado em Química pela Universidade Estadual de Campinas (2012). Tem experiência em instrumentação analítica, espectroscopia nas regiões espectrais do visível e infravermelho próximo, quimiometria e polarimetria. Atualmente é professora do curso de química do Instituto de Ciências Exatas e da Natureza (ICEN) na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).


Sarah Ramos Medeiros

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (2009). Atualmente é técnica de laboratório de Biologia na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, além de professora efetiva ligada à Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Reprodução Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino de Ciências, Biologia Molecular, Bioinformática, Água de coco em pó.   

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